Leitura Analítica:
-Texto A Curva
de: Denílson Neves
[Texto vencedor do Concurso- Grupo Amantes da Leitura]
1. Fundamentação Teórico- Literária:
Cabe aqui descrever inicialmente sobre a tipificação dada ao texto A CURVA: - Prosa.
Lato sensu, estaria correta tal denominação, visto que Prosa compreende toda narrativa escrita sem divisões rítmicas, sem preocupações métricas [o que genericamente difere prosa de poesia], onde a guia predominante do autor não é a poética, mas a descrição de um fato ou evento, de forma linear, sem digressões, com diálogos curtos, em texto monocromático.
Eis aqui uma visão ampla do conceito de Prosa [não definitiva, pois que conceituar prosa, ainda objeto de debate entre vários autores e mestres respeitados da Teoria Literária], cabe, porém tal enunciado considerando que a prosa por seu eixo basilar [narrativa], provoca de fato no leitor esta confusão inicial, dado que, por tal característica, abriga em seu bojo vários gêneros [para alguns autores] subgêneros, tais como:
- discursos, fábulas, novelas, romances, contos.
Strictu sensu, realizada a leitura analítica do texto A CURVA, nos deparamos não com uma prosa-simplesmente, mas com um CONTO.
Idem nos demais textos [lidos] do Autor.
O que nos leva a afirmar que Denílson Neves é um Contista, na mais exata acepção teórica do gênero, considerando que o mesmo utiliza a narrativa [prosa] para construir seus Contos.
Tal assertiva pauta-se em:
I. Identificamos na obra do autor o que podemos chamar de análise de tipo elementos, e para melhor nomear a produção literária de Denílson Neves, pautaremos esta leitura em três naturezas distintas:- tipo, gênero, elementos, que se apresentam nas ocorrências, onde o mesmo promove interseções claras utilizadas de maneira arguta para construir suas narrativas.
II. Fundamentamos esta breve analise, nos seguintes elementos:
• descrição, dissertação, injunção e narração;
• escrita argumentativa – utilização de recursos linguísticos apropriados para convencer o leitor – discurso de convencimento, busca de cumplicidade do interlocutor;
• texto não preditivo- onde o autor descarta a antecipação do dizer sobre o desfecho pretendido.
Aristóteles já observava, em sua "Poética", que nem todo texto escrito em verso é "poesia", pois na época era comum se usar os versos até em textos de natureza científica ou filosófica, que nada tinham a ver com poesia.
De igual modo, nem tudo que é escrito em forma de prosa tem conteúdo de prosa.
III. Assim vejamos de forma sucinta os aspectos e a natureza do Conto, para justificar nossa tipificação da escritura do autor:
a) Definindo o Conto:
O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total – da qual falava Poe (1809-1849) e Tchekhov (1860-1904): - o conto precisa causar um efeito singular no leitor, excitação e emotividade. Ao escritor de contos dá-se o nome de contista.
b) Escopo do Conto:
a. Narração breve, oral ou escrita, de um evento real ou imaginário.
b. Número reduzido de personagens
c. Uma só ação
d. Um só foco
e. Sua finalidade é provocar no leitor uma única resposta emocional.
É fácil notar que no foco narrativo, as ações, as personagens, as determinações espaciais e temporais em toda a sua pluralidade, são elementos que se encontram em todas as obras narrativas do Autor, destacadamente em A Curva, que identificamos como Conto.
2. Leitura Analítica do texto A CURVA:
Buscando dar um cunho didático a leitura analítica do texto A CURVA, faremos nossa exposição tentando evidenciar o texto dentro dos elementos do Conto:
2.1. Enredo:
A temática ou enredo de A Curva, trata de fatos do cotidiano, permeia seus efeitos no comportamento humano, retratando de forma clara e circunscrita o escopo moral de uma sociedade subjugada ao crime, à violência urbana. O autor elabora esta fotografia social sem digressões e extrapolações, com objetividade na descrição dos fatos, onde as palavras são usadas de modo a suprir o estritamente necessário para se dizer do enredo-evento.
2.2. Espaço:
Utiliza em sua narrativa um palco estreito onde consegue ajustar de forma correta a ação dramática, sem deslocamentos prejudiciais à intensidade da trama.
2.3. Tempo
A narrativa ocupa tempo breve [o conto assim exige], apresentada sinteticamente, suficiente para posicionar o conflito:- o assalto, as personagens principais, e os diálogos essenciais, as reações de personagens coadjuvantes - pois meros elementos para consubstanciar o enredo.
2.4. Tom
A descrição dos fatos pauta-se na harmonia estrutural entre as partes da narrativa, por sua unidade de objetivo rumo à unidade de impressão, que o Autor conhece e deseja provocar.
2.5. Personagem
Em A curva, temos claramente exposto um dos pré-requisitos fundamentais do Conto, número reduzido de personagens, essencialmente de caráter simples, abolidas desnecessárias evoluções.
2.6. Linguagem
O texto apresenta linguagem direta, de curto espectro. A linguagem utilizada é despida de abstrações,metáforas dispensáveis,sem prolixidade ,o que confere ao mesmo, talvez a mais importante característica do conto:
- a concisão.
[Vale ressaltar aqui, que pequenos deslizes ortográficos foram encontrados, que acreditamos tenham sido frutos de breve descuido do Autor, no ato da revisão]
2.7. Diálogo
O diálogo construído por Denílson Neves é direto, claro e preciso, demonstrado na fala das personagens essenciais, onde o Autor aparece tanto como narrador, como figura-participe da trama.
[Inclusão esta - como participe, de qual falaremos a seguir]
2.8. Descrição
Aqui cabe dizer, o que consideramos o ponto mais perfeito do texto, o Autor tipifica o evento, os fatos decorrentes, as personagens, no tempo e no espaço de forma magistral.
2.9. Foco Narrativo
No quesito foco narrativo, o Autor resvala em leves percalços, ao se inserir no núcleo dramático , quando deveria se manter o mais distante possível do mesmo, ainda que [talvez]tenha vivido o feito narrado, poderia ter criado uma personagem para vivenciar a sua provável experiência.
Resvala , no desfecho, ao divagar [dispensável] sobre o evento, se real ou imaginário [pois tais premissas não interferem no objeto do conto-que pode tratar tanto do real, quanto do imaginário], mas sim em sua presença no mesmo, pois deveria se postar como simples observador.
No conto, o Autor tudo sabe, mas não deve passar de espectador da trama.
3. Conclusão:
A Curva é um bom conto, abriga todas as suas características e elementos, e o Autor apresenta pleno domínio da narrativa, excluída apenas sua inclusão na trama , o que não compromete a qualidade do texto, mas que merece de nossa parte, considerando a maturidade do autor, oferecer ao mesmo não um conselho, mas uma sugestão:
- Denílson Neves, siga esta trilha, desvende todas as suas rotas, produza muitos e muitos contos, mas fique alerta para as Curvas e Perigos deste caminho , não deixe que a narrativa lhe trapaceie, e sem perceber coloque você dentro dela, visto que:
“o perigo se esconde nas curvas”, e a estrada do conto [da literatura em geral] é árida e espinhosa, requer acuidade e astúcia, oriundas da busca interminável pelo saber literário, e da certeza de que quanto mais aprendemos, mais certos somos de que nada sabemos.
Por conclusivo, expresso aqui o prazer vivenciado neste breve estudo, agradecendo a oportunidade experiencial oferecida, louvando a iniciativa dos Promotores do Concurso e Parabenizando Denílson Neves pela merecida conquista , desejando sucesso nesta caminhada e curvas literárias que percorre, e nas muitas outras que serão ainda percorridas.
Em 07/06/2010
Ana de Abrão Merij
Referências:
Coutinho, Afrânio, Conceito de literatura brasileira (ensaio). Rio de Janeiro, Acadêmica, 1960
Tavares, Hênio Último da Cunha, in. Teoria Literária –Editora Itatiaia –. 2002
Gotlib, Nádia BattellaGotlib. In Teoria do Conto – Editora Ática –1998
Retornar...